terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Resumo de 2014

2014 está no fim, foi um ano que dificilmente irei esquecer, além de provas marcantes e que serão eternamente recordadas também ficou marcado por noticias tristes e inesperadas!

Em Abril começou com as provas previstas no calendário competitivo, já tinha feito outras provas nos meses anteriores mas somente para treinar. E começou logo com uma experiência nova em todos os aspectos, prova por etapas e em equipa, GerêsTrail Adventure, foram 3 dias bem passados no fantástico Gerês na companhia do Artur Costa e do Vítor Penetra.

Em Maio fui até ao Açores atravessar a bonita ilha do Faial que teve no seu final no Vulcão dos Capelinhos um final espectacular!

Depois chegaram as provas Internacionais, em Junho a Maratona do Monte Branco e o KM Vertical em Chamonix foram duas experiências brutais onde deu para estar ao lado das grandes figuras do Trail como por exemplo o casal Kilian/Emelie :)

Em Julho fui até ao Pais Basco fazer a estreia em provas de 100 milhas, mas esta não correu como contava e fui obrigado a desistir devido a lesão, prova bem organizada, publico fantástico mas com lama a mais....

Agosto foi mês do UTMB a Meca do trail running em Chamonix, para fazer o CCC, esta prova correu muito bem e foi para além de uma experiência fantástica também motivadora para o grande objectivo do ano que se aproximava.

Outubro e a Diagonal des Fous (Diagonal dos loucos) o nome assenta na perfeição, esta prova que se realiza na Ilha de Reunion no Oceano Índico é qualquer coisa de fantástica, foi sem duvida uma experiência que irá ficar para sempre "pormenorizada" na minha cabeça, organização excelente, publico do melhor que vi ate à data e um percurso duro e técnico além de as temperaturas oscilarem entre os quentes 30º junto ao Índico e os frescos 5º nas zonas altas de montanha a não ajudarem, ilha lindíssima e prova de 100 milhas superada com sucesso!  

Novembro veio com as más notícias sobre dois grandes atletas e fantásticas pessoas. Um amigo do Andebol faleceu (Filipe Mota) e logo na semana seguinte desaparece nos Picos da Europa outro amigo (João Marinho) estejam onde estiverem estão sempre presentes.









O ano acaba com mais uma animada festa de Natal da Desnível Positivo novamente no Gerês!

Venha agora um novo ano com novos desafios para vencer.

Um grande 2015 para todos......

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Calendário 2015




CONFIRMADAS

6 Março - Transgrancanaria, Ilhas Canarias: 128km - 8.500D+ = World Tour Race
20.51h - 72º - 22º M40

25 Abril - Peneda-Geres Trail Adventure, Portugal: 8 Etapas - 280km - 16.700D+

16 Maio - Ultra Trail Picos da Europa, Espanha: 50km - 4000D+ ???

05 Junho - Ultra Trail Stara Planina - Servia 84km 3500D+

18 Julho - Eiger Ultra Trail, Suiça: 101km - 6.700D+ = World Tour Race

25 Setembro - Ultra Trail Mt. Fuji - Japão - 160km - 9.500D+ = World Tour Race







quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Diagonal des Fous - Reunion

23.10.2014
Ilha da Reunion - África
173km
10300D+


Foi em meados de Agosto que a coisa começou a ganhar forma. Estavam previstas férias em Outubro e o destino escolhido era Tenerife. Tento sempre conciliar as férias em família com uma prova, e desta vez não ia fugir à regra. Tinha inscrição no Tenerife Bluetrail, prova de 100km que vai ao cume do Teide aos quase 3500 metros de altitude, entretanto em navegação pela internet e facebook vejo informações sobre o Grande Raid da Reunion, Já tinha acompanhado esta prova o ano passado e tinha ficado debaixo de olho, mas como o destino era longínquo, a coisa arrefeceu. Quando navego pelo site da prova verifico que as inscrições estavam fechadas e foi aí que lancei o desafio. Falei com a família e propus o seguinte: ia contactar a organização e se aceitassem ainda a minha inscrição o destino deixava de ser Tenerife e passaria a ser a Ilha de Reunion. Passados 2 dias tenho a resposta positiva por parte da organização, tinham-me cedido um dorsal. O sonho de correr numa ilha no Índico ganhava forma. Depois disso foi, ver viagens e estadia (essa foi a parte mais fácil), depois de tudo marcado e confirmado comunico ao Paulo Pires a alteração de Tenerife para a ilha de Reunion, ele já tinha dado aval positivo à alteração e a reacção foi "SIGA", e a partir dai o treino diário foi com o objectivo da Diagonal des Fous. 
Cirque de Mafate

No fim de Agosto vou a Chamonix fazer o CCC já com objectivo da Diagonal. A prova correu bem, uma boa classificação (para mim) e sem usar os bastões, pois na Diagonal não seriam permitidos.
Depois do CCC e de alguma recuperação, pois 100km nos Alpes com mais de 6000D+ deixam sempre marca, o trabalho mais forte começou a ser feito. Escadas. Sabíamos que iria encontrar muitas, tinha treinos de 1h com mais de 2000 escadas, algumas idas à S. Estrela, muita bicicleta de estrada com bastante desnível, e estava a ganhar forma. De facto ter um treinador com as qualidades do Paulo facilita muito a progressão e os resultados eram evidentes.
Parto para a Ilha de Reunion para umas férias de 17 dias. A distância e os euros investidos (além de ser um destino que dificilmente repetimos) justificavam aumentar os dias previstos de férias. Estaria 12 dias antes do início da prova, os restantes 5 seriam para recuperar!
A viagem é longa e cansativa, depois de uma rápida ligação até Paris começou a ultra viagem que era previsto ser de 13h mas que demorou praticamente 15h.

A chegada começou logo a dar ideia daquilo que iria presenciar quanto à organização da prova. O "1º posto de abastecimento" era nas chegadas do aeroporto. Estavam lá a dar as boas-vindas aos atletas que iam chegando à ilha para fazer a prova, com uma bebida e petiscos típicos além de informação escrita sobre a Ilha. Muito bom!
Praia Saline les Bains
Os dias seguintes foram passados a conhecer a ilha. A costa, com praias fabulosas onde a temperatura da água é igual à do ar, cerca de 28º, e parece que estamos dentro de um aquário. A fazer snorkeling as vistas são fantásticas, peixes de todas as cores, corais, água transparente e azul, o cenário ideal para uns excelentes dias de praia. Quando o destino era a montanha, não ficava nada atrás da beleza da costa. Paisagens lunares provocadas pela actividade vulcânica, bastantes zonas húmidas onde os enormes "chorões" se impõem, cascatas de sonho, muita cana de açúcar, enfim muita coisa para ver e ocupar o tempo.
No meio disto, ainda tinha de continuar a treinar, e optei por ser de manhã cedo cerca das 7h fazia o treino programado para fugir ao calor e ficar com o resto do dia livre para turismo em família.
Casa
A casa alugada tinha condições excelentes, quer para férias quer para continuar a preparação para a prova, uma boa piscina, jacuzzi e localizada numa zona excelente para treinar. Fomos excelentemente recebidos e tratados pelo casal proprietário. 

Durante esses dias fiz 2 treinos em zonas onde a prova ia passar, Cilaos e Píton Textor. Nestes 2 treinos, deu logo para perceber as dificuldades que ia encontrar. Em Cilaos, além do calor seriam as escadas a criar dificuldades, escadas da altura do joelho e intermináveis. No treino na zona de Píton Textor, fui até ao Vulcão Píton de lá Fournaise, vulcão que se encontra activo e com paisagens espectaculares, como o Plaine des Sables ou a vista da Costa e da barreira de coral. Nesse treino, já no final, a subir mais uma série de escadas fiz uma entorse, ligeira mas que obrigou a tratamento. Estava a 4 dias da prova, o tempo não era muito para recuperar, o pé não inchou mas ficou dorido e sentia a dor a correr. Sabia que tinha de recuperar o melhor possível pois o terreno que tinha pela frente obrigava a estar bem senão podia estar tudo estragado.
Vulcão Piton de la Fournaise
Na véspera da prova, foi dia de levantar dorsais. Apesar de sermos cerca de 2300 atletas a organização conseguiu fazer essa tarefa em pouco mais de 4h. Depois de termos o dorsal e as camisolas, (a organização oferece 2 t-shirts porque é obrigatório para todos os atletas partir e ir até ao 2º posto de controle com ela vestida e terminar do último posto até à meta), somos encaminhados para uma zona onde estão dezenas de stands de várias marcas e algumas nada a ver com desporto a oferecer lembranças ao atletas. Recebemos no início um saco onde a seguir vamos pondo o que nos oferecem. Posso dizer que cheguei ao fim com o saco cheio, em cerca de 30 minutos recebi, cheques  desconto, chapéus, buffs, lanterna, apitos, capas para a chuva, embalagens de gel, cremes hidratantes, pasta dos dentes, sabonete, chouriço, pensos analgésicos, protector solar, etc....nunca tinha visto igual, excelente. Só na véspera da prova conseguimos sentir aquele ambiente típico, que, por exemplo, em Chamonix se vive bastantes dias antes. Mas naquele dia outras coisas me surpreenderam, os atletas locais vestem-se a rigor para aquele momento, fato, sapato branco, parece um casamento, a simpatia impera e quem leva o saco da prova é cumprimentado e cumprimenta os outros atletas, ambiente fantástico. Também recebo a notícia que devido a aluimento de terras e por motivos de segurança a prova iria sofrer um desvio e seriam mais 9km e 400D+, passaria assim a ser a maior Diagonal des Fous da história das suas 22ª edições, passariam a 173km e 10300D+.
Não existe pasta party, e fazemos o regresso a casa para preparar as coisas e descansar para o grande evento do dia seguinte.
Inicio
A prova que estava marcada para as 23h por causa das alterações passaria a ter o tiro de partida às 22.30h, e o controle de material começava às 19h. Chego cerca das 21h e já muita gente se encontrava no recinto fechado, e mais ainda nas zonas para deixar os 3 sacos para os postos, 2 durante o percurso e um para o final, lembro que a prova atravessa a ilha. Como não tinha sacos para entregar, iria ter a Cláudia nos postos com tudo bem planeado e assim evitar as confusões, passei directamente para a zona do controle de material, correu tudo normal e posso avisar que são bem rigorosos e vi atletas com problemas porque não levavam as 2 ligaduras com as medidas pedidas, ao mesmo tempo o telemóvel não faz parte do material obrigatório, estranho......além disso os bastões ou qualquer outro tipo de "bengala" é completamente proibida, por questões de segurança, se um atleta for apanhado por exemplo com 2 paus a fazer de bastões é automaticamente desqualificado.
Depois de completo o processo desloquei-me para a zona mais próxima das barreiras de saída, já lá se encontravam alguns atletas, uns a dormir outros sentados no chão, outros a comer frango assado, etc, mas deu para ficar bem perto do chamado grupo de elite, estavam a 2/3 metros de mim. 15 minutos antes da partida vejo os elites a começar a correr cerca de 500 metros para a zona onde seria dado a partida real, passados cerca de 5 minutos o mesmo aconteceu com os restantes atletas, mal as barreiras foram retiradas foi logo um sprint para ficar o melhor colocado possível, e consegui não foi fácil mas com algumas cargas de ombros pelo meio, lá cheguei a bom porto :)
22.30h, e,num ambiente fantástico, o melhor que vi até hoje e com temperatura de cerca de 24º ė dada a partida, fogo de artifício, música que nem me lembro qual tal era o ambiente e a emoção, televisões em directo, milhares de pessoas atrás das barreiras metálicas colocadas pela organização, e isto durante cerca de 5km, impressionante e arrepiante as crianças e adultos estendiam-nos as mãos, éramos incentivados por toda a gente, entretanto o ritmo alucinante parecia o início de uma prova de 10km, principalmente os atletas da Ilha saíram disparados, eu segui ao meu ritmo sem me importar muito com as centenas de atletas que passavam por mim, pareciam balas, achei estranho, ou não sabiam para o que iam ou eram grandes atletas, mas como o meu objectivo era terminar desfrutando o melhor possível da prova, sem o stress das classificações, obviamente tentando fazer sempre o melhor tempo, fui sempre a ritmos controlados e planeados com o Paulo com base na frequência cardíaca, o objectivo delineado era fazer uma prova de trás para a frente. O início da prova tinha uma longa subida seriam 41km que nos levava do nível do mar até aos 2100 metros de altitude de Piton Textor. De início por estrada, depois por caminhos no meio das canas de açúcar, e por fim no típico single track. Já perto do alto cerca dos 35km começou a chover, pelo percurso vi vários atletas já estendidos pela montanha, a partir dos 1500 metros a temperatura desceu bastante por informação que me deram para cerca dos 5º e até Cilaos foi sempre debaixo de chuva. Até Cilaos não, a cerca de 2km, e já depois de muito descer o sol apareceu assim como o calor e a chegada a Cilaos o 1º grande posto de abastecimento foi já debaixo de sol abrasador. De Píton Textor até Cilaos o percurso começa a ser mais técnico, muita pedra, depois muito penedo onde a progressão é difícil e obriga constantemente ao uso das mãos, começo aqui a perceber porque os bastões são proibidos. Antes de Cilaos temos a 1º grande subida técnica e desgastante, foram vários km a subir penedos, saltar, trepar, duro muito duro até porque estava tudo molhado. A descida até Cilaos, cerca de 4km, com escadas, umas curtas outras longas outras altas e outras muito altas, desgastante para o pés e joelhos, mas estava a correr bem, ia recebendo a informação que ia de posto em posto sempre a ganhar lugares e isso motivava, fisicamente estava muito bem apesar de já levar 65km e 3500D+.
Na entrada do posto estava a família, moral reforçado com o abraço do David e sou informado que não é permitida a entrada nos posto de qualquer acompanhante, vim a ver pela TV o François D'haene a ser assistido antes do posto em plena rua, eu fui ao posto comer o prato de massa e frango com sopa, era preciso alimentar bem, pois a seguir seriam os 65km mais duros da prova, e vim ter com a família já na rua para mudar de roupa, optei por fazer a prova toda com as mesmas sapatilhas, mas recarregai os produtos que levava para juntar na água, alguma coisa para comer e era preciso continuar, aqui fiz a paragem mais longa durante toda a prova cerca de 20 minutos, pelo meio enquanto mudava de roupa ainda fui entrevistado em directo para a televisão Francesa!
Cilaos
Feitas as despedidas, iria estar novamente com eles em Halte Lá, aos 130km, siga para a parte teoricamente mais complicada onde subíamos 3 vezes acima dos 2000 metros, e assim foi, mal saímos de Cilaos subida de 6km até ao Píton das Neiges a 2400 metros, subida toda em escadas, brutal.....depois a longa descida também não é mais fácil, raízes, pedra solta, escadas e escadas aquelas dos bombeiros, foram várias as que apanhamos, pedra vulcânica,.... Tudo isto provoca um desgaste físico e psicológico, as horas passam e os km não, mas lá chegue a Hell-Bourg, estava muito calor e era preciso ter muito cuidado com a hidratação, não chega só beber água, em termos de alimentação tudo ok, não tive qualquer problema em alimentar-me durante a prova, alias confesso agora que fiz toda a prova sem comer qualquer gel ou barra! 
Em Hell-Bourg tem início outra longa e dura subida, desta vez um misto de escadas e pedra, começou a anoitecer e o piso a ficar molhado com as diferenças de altitude, por esta altura e porque sabiam que estava a entrar na 2ª noite comecei a receber SMS e telefonemas, e que sorte tenho em ter família e amigos que apoiam da maneira que apoiaram, o Paulo também ligou várias vezes para dar algumas dicas valiosas e saber como estava. E o saber que tinha esta gente toda e mais alguma a seguir a prova à distancia devolveu as forças que começavam a faltar. Entretanto ia-me aproximando da última grande subida da prova, ao 120km tinha o Maido para trepar, e que subida! Ao estilo do Km vertical mas muito mais técnico. Na altura apareceram algumas alucinações, como um Bode no meio do trilho que não saía da frente, e quando resolvo passar por cima já ele não estava lá, além de árvores e pedras que pareciam todo o tipo de animais :)
Durante a subida para o Maido, que durou 2.30h, fui sabendo das novidades e o apoio que circulava na net, alguns colegas da Desnível Positivo enviaram mensagens, o Paulo Pires continuava no fantástico apoio, sempre a ligar e a motivar, os meus pais e irmã, a Cláudia que estava à espera em casa com o David a fazer também directa sempre em contacto e à espera que eu ligasse no abastecimento anterior ao que nos iríamos encontrar para ir ao meu encontro, quando é assim custa menos! Depois de alcançado o topo do Maido, e que dureza foi, já não me lembrava de sofrer tanto, mas consegui manter um ritmo certinho e continuava também a trepar na geral. Lá no alto, no abastecimento uma das voluntárias pergunta se queria dormir, vi uma tenda quentinha com um apetitoso saco cama, só me apetecia estender, mas a minha resposta foi "obrigado mas durmo em Saint Denis" e lá segui, longa descida até Sans Souci e fui avisado também que era perigosa, e se era....mas nada que já não tivesse visto!
Em Sans Souci um posto de abastecimento muito bem recheado, nisso não me posso queixar, do melhor, desta vez eram crepes de nutela e morango, comi sem exagero cerca de 10 e saí satisfeito. O próximo posto era Halte Lá, o 2ª e último grande posto, lá chegado tinha a família à espera mas como eram cerca das 6.00h da manhã o David estava a dormir, novamente repus o que precisava nova muda de roupa, e aqui tenho de levar a camisola da prova, pois este era o último posto que iria ter assistência antes do fim, e lá segui para os restantes 45km, e que duros foram....!!!!!
Nesta altura já tinha posto o objectivo que queria fazer Top 100, sempre que chegava a um posto de controle era informado da posição na geral, e neste de Halte Lá sou informado que estou na posição 97, quando me alimento bem demoro algum tempo até voltar ao ritmo, aqui não fugiu à regra, depois de sair do posto tínhamos uma longa subida mas não era muito acentuada e fui ultrapassado por 3 atletas, nesta altura já era possível fazer contas facilmente, estava na 100ª posição, passados uns km comecei a sentir-me melhor e na parte plana e descida até Possession resolvi aumentar o ritmo, acho que exagerei, ou melhor tenho a certeza, mas deu para chegar ao Posto de controle em 89º. Para satisfação minha quem está neste posto era novamente a Cláudia e o David, como foi bom. Vinha com um desgaste incrível, mas ver a família deu outras forças, não perdi muito tempo neste posto para não estragar o esforço que tinha feito a recuperar posições e segui rapidamente para os últimos 24km, pensei que seriam "fáceis", era só a última subida para o Colorado já dentro dos 10km finais seria mais complicado, mas enganei-me profundamente, mal saio do posto, comecei no sobe e desce sobre pedra vulcânica de enorme dimensões e debaixo de um calor insuportável. Comecei a pagar o esforço anterior, e ao mesmo tempo sentia-me a desidratar. Nunca mais acabava aquele pesadelo!
Quando chego ao penúltimo posto completamente desgastado mas ainda sem perder qualquer posição, sou informado que faltam 10km, 6 a subir e 4 a descer, mas voltamos ao mesmo tipo de terreno até entrar já em Saint Denis, já na cidade entramos na subida final até ao alto do colorado, parecia uma pista de motocross, grandes e profundos regos em terra solta, queria andar mas patinava, as forças com 170km já não são muitas e debaixo de quase 40º ao sol, marcava o relógio, a progressão era penosa, muito insultei quem se lembrou daquele final. Mas lá cheguei acima, agora era descer até à meta, sabia que a prova estava feita, além disso não tinha perdido qualquer lugar, ainda estava em 89º e só faltava 4km, mas para fazerem uma ideia da dureza destes km finais, demorei 1h exacta a descer os 4Km. Para fazem uma ideia a 1ª mulher a Nathalie Maunclair fez a descida em 1.12h, eu perdi 3 lugares, as pernas já não tinham força para aguentar saltar pedras com 1 metro e mais, raízes que não deixavam ver terra, escadas, rampas com uma inclinação brutal em terra solta, e isto tudo já depois dos 170km nas pernas, ou pés já parecia que ia descalço, tudo incomodava, sem duvida que a principal dificuldade desta prova é o seu terreno demolidor mas lá avistei o estádio e aí sim, recuperei algumas forças e foi terminar a minha primeira prova de 100milhas, neste caso 108milhas de mão dada com o meu filho e com a Cláudia em frente a registar este momento emocionante, em que em fracções de segundos várias coisas me passaram na cabeça.
O Final

Terminada a prova foi receber a medalha e a famosa camisola que a organização excelentemente escolheu, J'ai survecu "eu sobrevivi" à diagonal dos loucos. 
Terminada a prova era tempo de regressar a casa e festejar, depois de dormir umas horas!!!
Ficaram alguns problemas físicos, mas nada de preocupante.
Os restantes dias na ilha foi de regresso à praia e piscina, o que para a recuperação foi excelente. A qualquer lado que ia e porque ia com a camisola de finisher era saudado por muitos locais, que faziam muitas perguntas mas como o meu francês não é o melhor era difícil manter grandes diálogos, quase toda a gente naquela ilha tem conhecimento da prova e da dureza da mesma.
Quanto à organização, é do melhor, o público nunca vi igual, o percurso tem tanto de belo como de bruto, voluntários super prestáveis, uma prova inesquecível.


Aproveitei a longa viagem ate casa para escrever este relato :)

Não posso deixar passar a oportunidade sem agradecer a algumas pessoas que foram importantes nesta aventura:
A Cláudia e o David foram formidáveis quer na ajuda nos postos como na motivação, quase que também fizeram 38h non stop!
Ao meus pais que além do apoio moral também fizeram uma directa na 2ª noite a acompanhar a prova e a telefonar com constante apoio.
O mesmo em relação à minha irmã e cunhado que além da injecção psicológica que me iam dando ela ainda teve tempo para no FB arranjar mais apoio.
Ao mister/amigo Paulo Pires porque sem ele dificilmente conseguiria terminar uma prova deste nível de dificuldade.
Aqueles colegas da D+ positivo que além da força enviada via FB também enviaram SMS.
Ao JN Running e à Ivete Carneiro pelo destaque e acompanhamento da prova.
E a todos aqueles que, quer antes, quer depois, deixaram palavras de força, não posso enumerar um a um porque foram muitos, mas podem ter a certeza que sei bem quem são.
Obrigado e até já num trilho qualquer :)













quarta-feira, 3 de setembro de 2014

UTMB - CCC - Chamonix

Chamonix
Depois de ter sido obrigado a desistir das 100 milhas do ehunmilak devido a lesão, o principal objectivo passava a ser o CCC (Courmayeur - Champex - Chamonix), entretanto 1 mês antes desta prova surgiu a possibilidade de alterar de prova que tinha agendada para terminar o ano competitivo, inicialmente seria o Tenerife Bluetrail de 100km em que já estava inscrito, mas abriu-se a porta das 100 milhas da Diagonal des Fous e sendo assim o CCC passaria a ser um "bom" treino longo mas que não poderia deixar grandes marcas físicas pois a preparação tinha de continuar com vista à prova que se vai realizar naquela bela ilha do Oceano Índico em Outubro.
Viajei para Chamonix 3ªf, a prova seria na 6ªf por isso havia a possibilidade de treinar e ambientar para aquela dura prova que se desenrola em plenos Alpes e com vista privilegiada para o Monte Branco.
Já tinha estado em Chamonix em Agosto do ano passado, e em Julho deste ano fui fazer o KM Vertical e a Maratona do Monte Branco, por isso já conhecia o desafio e percurso que tinha pela frente.
Chamonix além da "Meca" do trail running também é um dos melhores destinos para os desportos Outdoor, são muitas as pessoas que cruzamos pelo centro da cidade com bastões, mochilas, botas de escalada, etc... além das dezenas de lojas relacionadas com estas actividades, sem duvida um ambiente fantástico, melhor ainda nestes dias que precedem uma das provas mais importantes do Mundo.
Ainda na 3ªf fiz um treino curto de cerca de 50 minutos até ao Chalet La Florie, local muito bonito com fantásticas vista sobre Chamonix e para o pico do Monte Branco.
Na 4ªf novo treino muito soft na companhia do pessoal da Desnível Positivo, Carlos Sá, Nuno Silva, Ester e também do meu colega de apartamento o Rodrigo Souza, que veio do Brasil para fazer o UTMB e que se viria a revelar uma pessoa espectacular e com um grande sentido de humor, ou como ele passou a dizer "fixe". Esse treino também serviu para o Carlos fazer umas filmagens e entrevistas para o seu canal do YouTube e que brevemente serão partilhadas aqui: (http://www.youtube.com/channel/UCfXu5KsmkI0VeP1g-5HhxTg
Na parte da tarde foi para levantar o dorsal e apresentar o material obrigatório, apesar de estar muita gente acabou por ser relativamente rápido, até porque estava na boa companhia do Diogo Almeida e da Natália que também iam fazer a mesma prova. A organização é do melhor que já vi tudo bem pensado e organizado, depois de entrarmos na zona do Check-In não houve tempos mortos, ao contrário do que pensava o material obrigatório não foi todo confirmado pois ao entrar davam-nos um papel para assinar com o nossos dados e número de dorsal e 4 itens do material obrigatório aleatórios, a mim saiu os 2 frontais e respectivas pilhas suplentes, calças impermeáveis, casaco impermeável e telemóvel, tudo correu bem e estava tratado este assunto, de seguida fui até ao recinto da feira visitar todos aqueles stands para começar a ter uma ideia do calendário para 2015, muita promoção a várias provas pelo mundo fora incluindo o Geres Trail Adventure. 
Neste dia o Carlos Sá reuniu os portugueses presentes em Chamonix para jantarmos e confraternizar no Alan Peru um restaurante gerido por uma portuguesa radicada em Chamonix. 
5ªf  foi um dia dedicado ao descanso total e preparar tudo para no dia seguinte levar para a prova.
6ªf começou bem cedo cerca das 6.00h para um bom pequeno-almoço, equipar e sair para o centro de Chamonix na companhia do Diogo e da Natália onde iríamos apanhar um autocarro para Courmayeur em Itália onde iria às 9.00h começar a prova, tudo decorreu sem qualquer tipo de espera e às 8.00h já estávamos no local da partida, optei por não deixar qualquer saco no posto de Champex a pensar que seriam cerca de 2500 pessoas e que talvez seria grande confusão e tempo perdido para ter acesso ao saco, então além do material obrigatório optei por levar mais um par de meias e uma t-shirt.
Uma meia hora antes das 9.00h já na zona de partida, eu, o Diogo e a Natália fomos separados pela organização devido a terem criado 3 zonas de partida relacionadas com os tempos que tínhamos dado na altura da inscrição, fiquei então sozinho mas rapidamente encontrei o pessoal da APT e juntei-me ao grupo.
Uns minutos antes das 9.00h o nervosismo aumenta, começam a tocar os hinos dos 3 países que a prova atravessa e o ambiente é fenomenal, a musica ajuda a arrepiar a pele, desejamos boa sorte e é dada a partida, muito público nas ruas a abanar os típicos chocalhos das vacas tradicionais do Alpes tornam este momento fantástico, depois de 3 km dentro de Courmayeur entramos nos primeiros trilhos que nos leva à primeira grande dificuldade do dia e logo o ponto mais alto da prova com cerca de 2600 metros de altitude. Lá segui a tentar gerir da melhor maneira o esforço, as sensações eram boas, estava a sentir-me bem e o ritmo era bom, com 2h de prova estava no alto de Tête de la Tronche e a partir daqui a prova entrou na que para mim é a zona mais bonita do percurso até ao Grand Col Ferret novo ponto acima dos 2500 metros e uma subida brutal, 1h de subida e as vistas eram fantásticas, para já o tempo estava bom e iniciava a maior descida da prova, seriam quase 20km e por estranho que achem era o local que mais receio tinha, foram quase 2h a descer mas que correram melhor que o que estava à espera, no abastecimento de La Fouly encontrei o Miguel Catarino e fomos juntos a bom ritmo e a ultrapassar muita gente até ao inicio da subida para Champex onde estava o principal posto de abastecimento da prova, na subida o Catarino estava a andar forte e não consegui ir ao ritmo dele, (acho que vou ter de me render aos bastões), quando cheguei a Champex com pouco mais de 8h de prova voltei a encontrar o Catarino que estava com a família, ouvi chamarem o meu nome e era ele e o Telmo Dourado, fui ao encontro deles e que grande ajuda foi o Telmo, enquanto optei por trocar de meias ele foi buscar uma data de comida e com isto além de perder pouco tempo alimentei-me bem, alem disso o Catarino ainda me cedeu uma fast recovery o que ajudou a recuperar algum do esforço dispendido, e não há duvidas que uma boa alimentação e hidratação fazem milagres, senti-me sempre muito bem e com força durante a prova quase toda.
O Catarino saiu uns minutos antes de mim e só o voltei a ver em Vallorcine. Bem alimentado sai agradecendo a ajuda do Telmo e com os incentivos dele e do Paulo Reis e que bem sabe isto, dá uma força extra, posso dizer que a partir daqui sentia-me como que se a prova tivesse começado e fui continuando a ultrapassar mais atletas e então quando era a descer consegui impor um ritmo muito bom, parecia que era uma prova de 20 ou 30km, mesmo nas zonas com mais lama e era muita, até porque começou a chover, o ritmo era muito bom, fisicamente estava a sentir-me bem e a cabeça estava a ajudar, até porque ia recebendo informação dos meus pais e da Cláudia que me diziam que estava constantemente a ganhar lugares na classificação, além de várias mensagens de amigos a incentivar o que dá grande força, e posso dizer que facilmente cheguei a Trient.
Como a estimativa da organização estava bem acima do ritmo que ia cheguei rapidamente ao abastecimento de Trient o pessoal da APT só os encontrei quando já ia a sair, mas ainda deu para trocar uma palavras e ouvir novamente os seus incentivos, foram GRANDES, a partir daqui já era praticamente noite e como chovia o dia estava escuro, optei por parar logo na saída de Trient para pôr o frontal e uns minutos mais à frente já ia ligado. Esta subida que nos levava até Catogne foi a que melhor me senti e fiz parte dela a trote, passei uma data de gente que ficava admirada como ia naquele ritmo já perto do 80km, a descida para Vallorcine foi mais técnica e com muita lama mas continuava a bom ritmo e a passar mais atletas, chegado ao último posto de abastecimento completo com 13h de prova, acabo de entrar e vejo que o Catarino estava lá, andamos com poucos minutos de diferença, opto por fazer uma paragem rápida e só comi uma sopa de massa bebi um chá e continuei, penso que estive lá cerca de 3/5 minutos, aqui apesar de avisado descurei um pouco a alimentação e tinha pela frente uma dura subida muito técnica e com muita chuva e vento pela frente, novo incentivo a sair do posto agora mais forte pois além do Telmo e do Paulo Reis já estava também o Paulo Tavares e a Anabela Rodrigues e foi sempre a correr até ao inicio da subida, sabia o que tinha pela frente já tinha feito esta subida e sabia que era uma destruidora de pernas, e então já com 85km mais difícil seria.
No posto de controlo mesmo antes de iniciar a subida optei por vestir a camisola térmica, estava com a que levava molhada e estava a sentir  frio, com muito chuva e vento e como ia subir novamente acima dos 2000 metros é já era noite joguei pelo seguro, por acaso o Rui Barbosa estava neste ponto de controlo e deu-me uma grande ajuda na troca, já estava com as mãos geladas e com a roupa colada ao corpo sozinho iria ser bem difícil. 
Atravesso a estrada que liga Chamonix a Martigny na Suíça e inicio a temida subida, a última, mas esta subida foi de longe a que mais me custou, a meio da subida apanhei um grupo de 4 atletas, optei por seguir com eles, foi uma boa opção, sofri muito nesta zona, não me alimentei como devia em Vallorcine e estava a pagar isso, aproveitei para comer 2 barras de mel e recuperei bem, esta subida é muito técnica, tem muita pedra e em algumas zonas temos mesmo de usar as mãos, mesmo depois de chegar ao alto, Tête aux Vents, (o nome diz tudo) a pedra continua a ser o que temos que pisar quase até chegarmos a La Flégére último posto de abastecimento, optei por nem parar, já tinha feito esta parte da prova em Junho na Maratona e sabia que demorava pouco mais de 45 minutos a chegar a Chamonix, aqui sabia que a prova estava feita mais ainda tinha 5 atletas na frente para entrar no top 100, na longa descida consegui passar 4 sabia que estava a 1 lugar do objectivo que criei a meio da prova mas não fazia a mínima ideia da distância que estava desse atleta, não via ninguém na minha frente e tinha dado grande vantagem aos que tinha passado, então optei por parar no Chalet la Florie para tirar o impermeável e guardar na mochila, e foi esta decisão que me tirou o 100º lugar, perdi cerca de 2 minutos e o atleta que fez 100º terminou com 2 minutos de vantagem, ou seja se soubesse que ele estava ali tão perto provavelmente o tinha alcançado, paciência!!! 

A chegada a Chamonix já foi depois da 1.00h da manhã, mas mesmo assim ainda algumas pessoas na rua a incentivar, e já na recta final vem o Telmo ao meu encontro e entrega-me uma bandeira nacional, aí foi terminar, festejar, 16.22h depois e no 101º lugar e 23º na categoria, tinha sido uma corrida de trás para a frente e na chegada tinha aquele grupo que me acompanhou nos abastecimentos à espera e o Catarino que já tinha chegado uns minutos antes também aguardava por mim, fantástico aquele final, fantástica aquela prova, tinha finalmente feito uma prova que ultrapassou nas minhas preferências Cavalls del Vent.
Depois foi tirar fotos com o pessoal, ouvir novidades sobre outros atletas, também sobre o que se passava no UTMB, entretanto também chegava a Natércia Silvestre e mais uma festa, depois foi regressar ao apartamento que começava o corpo a arrefecer e estava muito frio.
No sábado e depois de uma boa noite de sono acordei bem melhor do que pensava que ia estar, o "empeno" não era muito e até deu para acompanhar o Carlos Sá nos seus últimos metros em Chamonix, ainda recebemos o Nuno Silva e já noite dentro nova corrida desta vez com a chegada da Ester!

Estive sozinho no apartamento até Domingo de manhã altura que chegou o também Finisher do UTMB Rodrigo Souza, grande campeão. Ainda fiz um ligeiro trote de 30 minutos para "limpar" o lactato acumulado!
Depois fomos ver a entrega de prémios do UTMB onde esteve o Carlos Sá e de seguida novo jantar com os amigos no Alan Peru de despedida com a presença do "Mestre" Carlos Natividade, um exemplo e um grande campeão, também finisher do UTMB.
2ªf era dia de regresso, a manhã foi para dar uma volta por Chamonix na companhia do "famoso" Rodrigo, fazer umas compras e regressar ao Porto.


Aproveito para agradecer a todos que enviaram mensagens, que ligaram, que estiveram presentes, que apoiaram nos postos, à Cláudia, aos meus pais e irmã ao Paulo Pires APT, e Desnível Positivo!
Agora continuar o trabalho com o objectivo das 100 milhas da Diagonal dos Loucos em Outubro!!!







Chegada













Champex












sábado, 5 de julho de 2014

Mont-Blanc Marathon- Skyrunning World Championships - Chamonix

Depois de ter estado em Chamonix em Agosto de 2013 a treinar com um grupo liderado pelo Carlos Sá, e, logo no 1º dia, termos feito o KM Vertical (KMV)  - esta prova consiste em fazer no menor tempo possível 1000 metros de desnível positivo em 3.8km - fiquei de imediato com a certeza que queria experimentar aquela "parede" em competição. Esta é uma prova com muita procura porque além de se realizar na Meca do trail running mundial também decide os campeões do mundo de Skyrunning. Estive atento, e fiz a inscrição minutos depois de abrirem, 1º no KMV e depois na Maratona, a verdade é que entre a maratona e os 80km preferia a prova mais longa mas como queria muito estar no KMV que começava na 6ªf e os 80km também, não eram compatíveis.
KMV
Foi em família que viajamos para Chamonix, primeiro de avião e depois de carro desde Genève. Chegados a Chamonix fomo-nos instalar no apartamento alugado para 1 semana, apartamento este que estava bem localizado, a 5 minutos do centro.
Era 4ªf depois de instalados e porque já era fim de tarde e estava um tempo excelente fui treinar e resolvi reconhecer o 1º KM da prova do KMV, já não me lembrava da dureza da subida, e o 1º km é o menos agressivo, as sensações foram boas, recordar aquelas montanhas quase 1 ano depois de lá ter estado, foi fantástico! Chamonix está sempre ligada aos desportos de montanha mas estes dias respirava-se trail nas ruas e era frequente cruzar-me com as principais figuras da modalidade.
Na 5ªf o dia foi para passear por Chamonix e ir levantar os dorsais para as 2 provas, estas grandes provas fazem com que quase toda a elite esteja presente, no trail é normal no levantamento dos dorsais na fila ao lado da que me encontrava estava por exemplo a Nuria Picas, a Fernanda Maciel, Emelie Forsberg ou o Luis Alberto Hernando e o Philipe Reiter, com o qual ainda troquei umas palavras!

Esta é sem dúvida uma grande organização, praticamente todas as marcas ligadas à modalidade estavam presentes quer de material, equipamentos ou alimentação. Depois de tudo tratado, e bem visto, foi altura de novo treino, este seria plano e no fim tentei ir fazer uma sessão de crioterapia na margem de um canal de água que vem do degelo da alta montanha (alguns colegas sabem bem do que falo) mas a corrente era tão forte e a agua estava tão gelada que não dava para mais, do que pôr os pés de molho, em sessões de 15 segundos!
Crioterapia

6ªf era o dia da 1ª prova o KMV, começava as 16h, mas como é ao cronometro, com saída individual de cada atleta, a cada 30 segundos, tinha de ir saber a que horas ia sairia. Fiquei a saber que seria às 17:30 ou seja 1h antes do Kilian, era excelente porque assim podia assistir à prova dele.
Depois de um almoço e lanche à base de massas, e com o nervoso miudinho a aparecer conforme a hora se aproximava, olhava para aquela montanha onde já se viam os atletas espalhados por aquela enormidade a cima, à distância não passavam de pequenos pontos na montanha.
17.30h e estava no local da saída, os atletas saiam com intervalos de 30 segundos controlados por um juiz e por um cronometro com "semáforo", o ambiente era incrível naquela praça até porque coincidia com a chegada da prova dos 80km, muita gente naquela zona. Chegava a hora, estava sozinho na partida a ver o relógio na contagem decrescente, a pulsação subi, semáforo verde e estava no início da prova mais curta em distância que tinha feito até à altura, sai rápido até porque com aquele apoio a adrenalina está no máximo, logo nos primeiros metros estava a minha família a apoiar e andei forte nos primeiros 300/400 metros, depois deitei mão à consciência, sabia que tinha que controlar o ritmo para não morrer na praia.
Partida KMV
Fui a correr praticamente até aos 300 metros de desnível, esta prova ao contrário das outras está marcada a cada 100 metros de desnível positivo. A prova é brutal, quer de dureza como de beleza, ao subirmos aquela montanha aos "S" com um desnível brutal e irmos vendo Chamonix a ficar para baixo é incrível, continuava muita gente espalhada pelo percurso, a frequência cardíaca andou sempre no "red line",  e aos 800 metros de altitude a prova entra na zona mais técnica, rocha na vertical com apoios em ferro para subirmos agarrados a cabos, rampas que temos de ir com as mãos no chão quando as dores de pernas já são fortes. É sem dúvida a parte mais difícil do percurso, quando já vemos o varandim do teleférico e nunca mais lá chegamos.....chegados ao teleférico temos umas séries de escadas e a recta da meta sempre a subir, está prova tem talvez uns 15/20 metros planos o resto é sempre com uma inclinação brutal, mas com a meta à vista ganhamos novas energias e até dá para aumentar um bocadinho o ritmo, mesmo no final vejo novamente a família que já tinha subido no teleférico, último esforço e cheguei 53 minutos depois de partir, experiência fantástica que nunca irei esquecer. Depois de recuperar um bocado e já conseguir falar para o speaker da prova e porque o vento era forte o que era desagradável principalmente para quem estava ensopado em suor fomos desta vez todos para o teleférico e voltamos de novo para Chamonix.
Logo na saída do teleférico começamos a ver os ultimos atletas e mais favoritos a passar e resolvemos ficar por ali a assistir, para meu espanto vejo a Emelie Forsberg a passar, nem queria acreditar, tinha acabado de ganhar a prova dos 80km 2h antes e já subia o KMV, (depois vim a saber que parou pouco à frente), o ritmo dos principais candidatos era impressionante, parecia que iam em plano, então o Kilian que iria ganhar a prova conseguia ir a um ritmo fortíssimo e ainda se dava ao luxo de falar e cumprimentar o público. Depois de passar o ultimo que era o vencedor do ano passado, o Saul A. Padua, continuamos o regresso ao apartamento, mas antes era preciso "queimar" aquele lactato acumulado naquela subida e fui fazer uma corridinha de 30 minutos a ver montras :)

Sábado era dia livre, depois de 40 minutos de uma corrida plana saímos de carro e fomos dar uma volta por aquela zona, Megève, Champex, Courmayeur, Gr-St-Bernard, Trient, Vallorcine e novamente Chamonix, passeio muito agradável!

Domingo era dia da maratona, conforme a organização avisou no dia anterior o mau tempo fazia-se sentir, chuva, frio e vento forte nas partes altas da prova, nesse sentido a organização alterou a ida ao ponto mais alto do percurso, a Aiguillete des Posettes, a partida era as 7h mas como eram 2200 atletas que iriam estar na saída resolvi ir mais cedo para não ficar na parte de trás do pelotão, o que acabou por acontecer é que fiquei junto do grupo de elite, o que provocou um início muito rápido, nada ao meu ritmo, e até senti algum desconforto nos primeiros km, até Valorcine ao km 18 o percurso era pouco acidentado, muito rolante e sem qualquer parte técnica, foram estes primeiros 18km que mais me custaram porque gosto mais das longas subidas, o que se verificou depois de passarmos no abastecimento de Valorcine, ai começou a 1ª grande subida da prova e lá no alto 2200 metros o frio com vento à mistura fizeram a sensação de frio acentuar, mas já estava no meu terreno, depois longa descida e novamente longa subida até Flégère, lá no alto a prova estava feita, agora era descer até Chamonix, essa foi uma alteração ao percurso, pois a prova estava prevista acabar em Planpraz a 2000 de altitude, onde acabou o KMV mas devido ao forte vento o teleférico estava parado e não havia maneira de trazer os atletas de volta a Chamonix, pelo menos foi está a explicação que ouvi!
A chegada a Chamonix e principalmente o último km foi com um ambiente fantástico, muito público na estrada a apoiar, e ouvir palavras de apoio em várias línguas inclusive muitas em português, o dorsal tinha a bandeira do país do atleta, deu uma adrenalina extra e o ritmo aumentava conforme a meta se aproximava e mais gente se acumulava, nós últimos metros ainda ouvi as palavras da família e mais "arrepiado" fiquei logo a seguir estava concluída a prova, 42km, 5.05h e 2500D+ depois tinha realizado um dos objectivos do ano correr em Chamonix numa que é das mais importantes provas a nível mundial. Foi uma experiência que será recordada para sempre.

Os restantes dias foram para gozar em família e aproveitar aquelas condições naturais fantásticas para treinar.

Agora segue-se a maior aventura da minha vida desportiva, as 100 milhas (170km) no ehunmilak. E em Agosto próximo estou de regresso a Chamonix para o UTMB e fazer a prova do CCC.

Chamonix

Emelie Forsberg



KMV
Anna Frost


 Stevie Kremer

Courmayeur






Chalet La Floria

Kilian
Champex - Lac
Gr-St-Bernard



Maratona