sexta-feira, 17 de abril de 2015

Gerês Trail Adventure - GTA

O 1.º objectivo do ano estava à porta, ia decorrer no parque natural da Peneda do Gerês. A prova é diferente de todas as outras, é por etapas, 3 etapas em 3 dias, a 1.ª teria 35 km, a 2.ª 60 km e a 3.ª 12 km num total de 107km e 7000D+. A estratégia para esta prova seria diferente é sempre uma novidade, nenhum dos 3 elementos que compunha a equipa tinha feito uma prova por equipas.

Pedro Conde-Artur Costa-Vítor Penetra
A prova começava sexta-feira de manhã, mas fui para o Gerês na quinta-feira ao final do dia, assim seria mais confortável levantar o dorsal e preparar as coisas para o dia seguinte, seria um fim‑de‑semana em família apesar do tempo estar mau. Era esperada muita chuva principalmente para sexta e sábado, mas era o que estava marcado e assim foi. Na viagem, tivemos a companhia do Vítor Penetra, que juntamente com o Artur Costa e eu formamos a equipa Desnível Positivo. Durante a viagem fomos falando de como podíamos encarar a prova, a gestão da mesma, principalmente da 1.ª etapa porque o segundo dia sabíamos que seria muito duro.

Na chegada ao Gerês fomos logo levantar o material o que decorreu de forma rápida e sem qualquer problema. 3 dorsais (um para cada etapa), corta-vento e uma pequena árvore vinham no saco. A ideia da árvore foi muito original, seria dada uma a cada atleta para ser plantada, desta forma varias dezenas de árvores irão crescer num pais tão devastado pelo fogo! De seguida fomos à Residencial Ribeiro onde tão amavelmente fomos tratados naqueles 3 dias, e de seguida jantar ao centro da vila. Era importante descansar bem, os dias seguintes iam ser para duros!!!
1.ª Etapa

1.ª Etapa - 13º lugar - 4.31h

No primeiro dia estava marcada uma etapa de 35km, com 2500m de desnível positivo (D+), o dia estava cinzento e o pequeno almoço foi o encontro com a restante equipa Desnível Positivo que também fez daquela residencial "quartel general" depois daquele momento agradável fomos equipar e preparar o material para seguirmos para a zona de partida, como as previsões eram de chuva o impermeável (sempre obrigatório com este tempo) e uma segunda camisola seria importante levar na mochila além do restante material imposto pela organização. 
Já na zona de partida encontramos vários amigos destas andanças, o ambiente do Trail é muito diferente, todos falam com todos, fotos de grupo, com os atletas de elite, etc....controle feito e preparados para  etapa, estratégia definida, que seria gerir mas ao mesmo tempo andar bem, era importante não deixar as forças todas logo no 1.ª dia, até porque no dia seguinte vinha a etapa "rainha". 
A partida foi dada às 11h pelo organizador e principal responsável da prova o Carlos Sá. Saímos na frente do pelotão, e os primeiros km foram sempre em alcatrão e bastante rápidos, alias foi uma etapa muito rolante, mesmo a subir dava para rolar bem, o que neste caso não é bem ao meu gosto, mas fizemos os primeiros 20km a bom ritmo, a parte final devido a brincadeiras infantis feitas por anormais (que têm cabeça mas nada dentro) andaram a alterar o sentido das marcações e a retirar fitas. Face à chuva que entretanto começou a cair e também algum cansaço deixamos o ritmo cair ligeiramente. De qualquer das formas fizemos 10º da geral. Confesso que devido ao facto de ser um percurso muito rolante o desgaste que me causou foi maior do que estava a contar, mas o tempo final de 4.31h estava dentro do esperado, estávamos com a 1ª etapa concluída e andamos os 3 sempre juntos a puxar e a incentivar. O espírito de uma verdadeira equipa. 
Final da 1.ª etapa


No final, depois de algumas fotos e conversa com outro pessoal que já se encontrava naquela zona, rapidamente fomos tomar banho porque era importante não apanhar frio e até aquecer. Reunidos novamente na recepção da Residencial foi assim que andamos estes 3 dias, sempre o "team" junto, fomos jantar cedo era preciso descansar, a próxima etapa seria ás 6h.





2.ª Etapa - 9º lugar - 10.33h

Esta era a etapa rainha, a ultra etapa, 60km com 4000m de D+, o despertador estava para a 4.45h, obviamente era noite escura quando descemos para o pequeno-almoço, chovia intensamente desde o dia anterior e assim foi a noite toda, depois do pequeno-almoço que reforcei no quarto com aletria, pois o dia seria longo e duro, verifiquei o material. Tudo pronto! Impermeável vestido, frontal na cabeça lá nos dirigimos para a partida, continuava a chover forte, já prevíamos uma etapa ainda mais dura. Na chegada à zona de partida fomos encaminhados para o auditório onde o Carlos Sá fez algumas considerações e recomendações sobre a etapa, mas mal saímos do auditório foi dada a partida, não era recomendável estar ali a levar com tanta água parados.
Partida dada e desta vez o inicio foi mais calmo tínhamos muitos km pela frente e bem duros, na parte inicial e logo antes do 1º abastecimento conseguimos perder-nos, não por falha de marcação mas por distracção  nossa, perdemos algum tempo, quando chegamos ao 1º PA fiquei surpreendido, eram cerca de 7h da manhã e um grande panelão de sopa com um aspecto muito bom estava à nossa espera, lá foi uma tigela, estava tão quente que tive de misturar água, senão nunca mais saia dali, mas soube muito bem, pena não ter havido mais. Depois deste posto começamos a correr a um ritmo mais certo e rápido, passamos umas equipas, e entramos em zonas mais técnicas, ao lado de belas quedas de agua, zonas de pedra escorregadia ainda para mais com aquela chuva, ribeiros, barragens, vales de uma beleza incrível, foram as vista desta etapa, claro que também muita lama, água (gelada) principalmente nas partes altas, muito vento, e bastante frio, até porque estávamos molhados quer da chuva quer do suor, estas condições climatéricas tornaram a etapa ainda mais dura.
Tínhamos  3 subidas duras e longas de vários km, fomos passando estes obstáculos um a um e sempre juntos, ajuda mútua era importante, e de PA em PA continuávamos em bom ritmo, passamos a barragem de Vilarinho das Furnas e começamos a longa subida da Serra Amarela, vista deslumbrante e sossego absoluto, pena as nuvens baixas e a chuva não deixarem ver o verde que nos rodeava, felizmente já tinha tido a sorte de fazer esta parte do percurso com o Carlos Sá em Dezembro e num dia de sol. Incríveis as paisagens, aconselho uma visita a este parque natural. 

Depois de passada a Serra Amarela e já na descida finalmente apareceu o sol e que bem que soube, parece que ganhamos novas forças, e lá continuamos em bom ritmo novamente a descer e com a barragem de Vilarinho ao fundo, seguíamos agora para a última dificuldade do dia a subida da Calcedónia. No abastecimento anterior por causa do telemóvel distraí-me um pouco e consequentemente má alimentação, iniciamos a subida a bom ritmo e mantivemos esse ritmo durante toda a subida, mas era dura, muita pedra, era preciso saltar entre pedras, escadas naturais daquela zona, o típico penedo, e passar por fendas, isto já no final junto da famosa "Fenda da Calcedónia", infelizmente não passamos pelo seu interior por questões de segurança que percebo perfeitamente. 
Zona da Fenda da Calcedónia
Estava feita a parte dura da etapa mas esta subida deixou-me marcas, o sol inesperado fez mossa, falha na alimentação e já algum desgaste acumulado deixaram-me bastante pesado para os km (8) finais, seria numa primeira fase a rolar em estrada e estradão e depois sempre a descer até à Vila do Gerês onde estava a meta. Tomei um gel e lá recuperei alguma coisa e continuamos a rolar até que já ouvíamos lá em baixo na Vila a voz do speaker, ai ganhamos novas forças e fomos em boa disposição até há linha da meta. Quando entro na recta final e vejo no pórtico da meta o meu filho, esqueci-me por instantes que estava em equipa e acelerei ao seu encontro, é sempre reconfortante ver a família na chegada, é uma motivação extra!

E estava feita a etapa principal em 10.33h, dura.....mas em equipa unida é mais fácil ultrapassar os obstáculos!
Exactamente como no dia anterior, banho e jantar em equipa. Por volta das 21.30h fomos ao auditório assistir aos melhores momentos dos 2 dias e também a um "bate papo" com as duplas das 3 primeiras equipas da classificação geral da prova principal, a dos 107km, momentos divertidos antes do descanso.


Final da 2.ª etapa









3.° Etapa - 9º lugar - 1.22h

Esta etapa era a mais curta e claramente a mais simples, tinha somente um início brutal, com 3km sempre a subir muito, autenticas rampas, e praticamente a totalidade do D+ 800m, apesar de ser uma etapa curta o material obrigatório era o mesmo das outras etapas. Concordo! 
Depois de uma boa noite de sono, toca a acordar às 9.00h, depois de um agradável pequeno-almoço, desta vez já com sol. E como o Gerês fica mais bonito com sol! Fomos para a zona de saída, a partida foi dada às 10.30h, e depois de uma volta à Vila do Gerês a ritmos de estrada, o 1º km foi feito a 4.30m/km, mas a entrada na subida ainda no centro da vila é uma grande "pancada" faz lembrar no ciclismo aquelas etapas que terminam em alto com uma subida final curta em que entram todos a bom ritmo e se começam a “espalhar” perante a subida, aqui também foi assim, entrei a um ritmo alto mas rapidamente vi que era exagerado e comecei a gerir, passado uns minutos já tinha estabilizado e já subia a ritmo constante, mas próximo do máximo, as dores de pernas eram enormes, parece que o ar para respirar não chega mas eram só 12km e podiam haver estes exageros. Depois de chegarmos ao alto de Pedra Bela, foi praticamente sempre a fundo novamente até à Vila, a descida foi feita de forma bastante acelerada, os travões até aqueceram, mas lá estávamos 1.22h novamente na meta, 14 minutos depois dos vencedores da etapa, e em 8º lugar de geral. 

3.ª etapa


A equipa com o Carlos Sá



No final a organização tinha preparado uma surpresa, depois dos parabéns dados pelo Carlos Sá, vai buscar uma medalha personalizada com a foto dos 3 elementos da equipa e coloca-nos ao pescoço, são chamados os pormenores de classe a que o Carlos já nos habitou.
A medalha de finisher


O ambiente no final era fantástico, o speaker ajuda à festa, muitas caras conhecidas, deu para encontrar, falar e até conhecer novos elementos da APT, trocar umas ideias com o “comandante” Paulo Pires, ele que além da parte “técnica/táctica” fez um grande trabalho fotográfico.

No final ficamos no 9º lugar da geral com 16.28h.

Considerações finais!

Depois de recompostos fomos para a zona de meta onde seriam entregues os prémios aos primeiros classificados, mas antes fui surpreendido, estava um rancho folclórico a actuar e vi o Carlos Sá e o Armando Teixeira e até o Philipp Reiter a dançar "o vira" lá no meio, de facto o Trail faz estes ambientes e todos convivem, o primeiro com o último, e o último com o primeiro. Ambiente único! Este fim‑de‑semana assisti e participei numa prova de Trail no seu estado mais puro.

Depois de um almoço volante e alguma conversa foi fazer o regresso a casa, havia que descansar um pouco, pois no dia seguinte era segunda-feira.

Aproveito para dar os parabéns ao Carlos Sá e a toda a sua equipa que tornaram este fim‑de‑semana fantástico, uma organização exemplar, trilhos para correr e dos mais belos que tenho visto, os voluntários 5*, sempre prontos a ajudar e a incentivar, tenho de salientar a Natália Amoedo, o Bruno Querido e o Nuno Gavinho, que ainda vinham ter com os atletas antes dos abastecimentos e corriam ao nosso lado até lá, também aos irmãos Pereira que fizeram um grande, duro e “alegre” trabalho a colocar e retirar fitas.
Tenho a certeza que esta prova tem tudo para no futuro se tornar na Meca do Trail nacional e uma das melhoras da Europa, o Gerês merece!

Em termos pessoais vi que ainda estou a baixo daquilo pretendido, mas ainda temos 10 semanas para afinar a máquina até ao objectivo principal do ano, as 100 milhas no Ehunmilak. Antes ainda passo nos Açores pelo Faial para 50km e por Chamonix para o Km Vertical e Maratona do Monte-Branco.

Aos meus colegas de equipa, vocês foram fantásticos Vítor e Artur, passamos 3 dias excelentes, o espírito foi o que esperava, a entreajuda do melhor, a vossa qualidade como atletas nem se fala, com vocês estou disponível para novas aventuras, obrigado pela vossa companhia, fomos enormes.

Também envio um abraço a todos os atletas presentes da Desnível Positivo, e foram muitos, todos juntos fazemos a diferença!

D+

2.ª etapa
Família
Os espanhois 2º da geral


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